Beleza Natural em Terras de Soalhães

Depois de ter lido o artigo do António Queirós, “Abril 2010”, e que gostei, venho pedir-lhes que não percam a coragem de incentivar a nossa “GENTE” a dar valor à BELEZA da NATUREZA com que somos presenteados, preservando-a e tratando-a como um Tesouro.
Depois do 25 de Abril de 2009, voltei a percorrer o trajecto “Pedras, Aromas e Moinhos de Santiago”, numa época do ano bem invernosa. Devo dizer que, apesar de ter chegado “toda a escorrer”, para o almoço, efeitos da chuva que se fez sentir nesse dia, a minha alegria contagiou-se pela beleza que foi banhando o meu olhar. Vibrei como se fosse a primeira vez!... Todos os dias sãos belos!... e todos eles, bem diferentes!... Que maravilha!...
O amor com que o fiz, a envolvente humana, a minha admiração por cada pedra, cada moinho, cada arbusto e cada flor, fizeram-me viver um sonho! Sim, encontrei flores lindas, com o Dom de serem tratadas pela mãe Natureza; equilibradas pelo frio, pela neve, pelo vento, pelo sol e pela chuva! Este milagre, o ser humano não consegue! Muitas e muitas vezes, estraga… É pena!
O calor do corpo provocado pelo esforço das subidas e pelas “receitas” da “Tasquinha do Fumo”, secaram a minha roupa! Voltei seca para casa! Milagre!... Milagre!...
A alegria e o amor fazem milagres!
Critiquem amando!... Critiquem ajudando!... Critiquem criando!...
Criem objectivos, ofereçam oportunidades e chamem-me!..., sou uma Soalhense que vos ama incondicionalmente.
Ana Vieira de Queirós

Abril de 2009

Dia 25 de Abril, dia da Liberdade, da Revolução dos Cravos, a Revolução que nos trouxe a vida democrática, vida essa que, ou me engano muito, ou após, decorridos 36 anos, ainda não aprendemos verdadeiramente a vivê-la…
Falar destas coisas aos mais jovens, principalmente aos que já nasceram em democracia e que frequentam as nossas escolas com o actual ensino, não é fácil. Não fazem bem ideia do que foi viver esse fantástico momento que nos libertou de uma longa ditadura fascista ou, se quiserem, salazarista. Para muitos destes jovens, falar do 25 de Abril, de Salazar, ou até, de D. Afonso Henriques, é tudo a mesma coisa, ou seja, é tudo história… e para quem não gosta de história, querem lá saber, é mais um feriado!
Hoje, a vida, não está fácil, estamos em crise, mas temos Liberdade, podemos nos expressar livremente, indignarmo-nos contra aquilo que não estamos de acordo, dizer mal do Eng. Sócrates, do PS, da Dr.ª Cristina, de “locomotivas em rotundas”, etc. … Seria bom, que sempre que o fizéssemos, não ultrapassássemos a barreira do respeito pelas ideias dos outros, enfim, o que nem sempre acontece!
Mas não era propriamente do 25 de Abril de 1974 que eu queria falar, não quero falar de política, nem, tampouco, dar lições de democracia a ninguém; queria, antes, referir-me ao 25 de Abril de 2009, o dia em que, numa alegre caminhada, promovida e organizada pela Junta de Freguesia de Soalhães, pelo percurso, já conhecido de muitos, “Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, se comemorou “O dia da Liberdade”. Pois, o desabrochar da primavera, proporcionou aos caminheiros, desfrutar de todo o encanto natural da Serra da Aboboreira, não esquecendo, obviamente, a reposição de “energias”, na famosa “Tasca do Fumo”, para depois, prosseguir e levar a cabo o resto da caminhada, que terminou num lanche convívio no Centro de dia. Parece que para este 25 de Abril de 2010, não há nada previsto nem organizado, é pena!..., mas a primavera ainda não acabou…
Ah, lembrei-me, agora, que um dia, quando formos já velhinhos, sem grandes forças para caminharmos, sobretudo, por alguns troços mais tortuosos do percurso, como seria bom podermos recordar todo esse percurso, visitar os mesmos lugares, os mesmos moinhos, a mesma tasca (a servir agora, chazinho e torradinhas…), mas, para isso, em vez de o fazermos a pé, já que, nessa altura, a saúde não vai ser muita, o pudéssemos fazer num pequeno comboio turístico, em linha reduzida. Para tal, lanço um desafio aos endinheirados da nossa terra, para contribuírem fortemente em apoiarem num hipotético investimento turístico, que, poderia muito bem ser, a construção de uma linha reduzida paralela ao caminho pedestre, para o dito comboio. Assim, quem é que iria dizer, que uma locomotiva colocada na principal rotunda da Freguesia, não faria o menor sentido? …
Desculpem-me, perdão, caros leitores e, principalmente, minha querida Amiga Cristina, lá fui eu, falar novamente de política… e eu que só queria divertir-me!

António Vieira de Queirós

Em Vinheiros à conversa com o Sr.Alfredo. As Papas de Milho

No dia nacional dos moinhos abertos, mais concretamente no dia 10 de Abril, serra acima, rumo ao início da linha dos moinhos de Vinheiros, fomos carinhosamente recebidos pelo Sr. Alfredo, diríamos que é o “guardião” do Jardim Aromático, e do moinho do Balcão. Dá o seu contributo nesta tarefa a sua irmã, Dª Cândida, que nesse dia andava ajudar os vizinhos numa “malha”. O Sr. Alfredo recebeu-nos com umas saborosas cavacas, um vinho do porto e eu também me deliciei com um pão de padronelo, que o Sr. Alfredo ainda de madrugada foi comprar ao S.Brás….a pé!

Foi uma conversa animada….demos conta que a aldeia Vinheiros de Cima tem apenas 9 habitantes, e fizemos algumas sérias considerações sobre as dificuldades dos tempos de outrora. O Sr. Alfredo, com um sentido paternalista, lá nos foi dando conta, a nós jovens, das dificuldades dos tempos passados e do bem inestimável que hoje os jovens têm, tudo na vida dos jovens de hoje é carregado de facilitismo comparado com os tempos de outrora. Foi uma conversa muito agradável…

E nesta conversa o Sr.Alfredo lá nos deu conta como se faziam as papas de farinha de milho. Apesar do Moinho do Balcão ser mesmo aqui ao lado, a família do Sr.Alfredo moía no moinho das “Escaleiras”. A farinha para as papas, quer-se fina, para isso é preciso “temperar” o moinho…para moer mais fino. Com farinha mais grossa confeccionavam-se os “milhões”!

Ora então, colocavam-se numa panela de ferro à lareira, os feijões a cozer. Os feijões antigamente eram “mistura”. Ou seja, tanto eram brancos, pretos, riscados, e amarelos, daí a mistura. Ao feijão bem cozido, misturavam grelos ou tronchuda, e depois de tudo cozido, acrescentava-se a farinha macia. Nesta receita não faltavam as ervas aromáticas, ora era a hortelã, ora eram os poejos. Antes de servir, juntavam o azeite e misturavam de forma a que o sabor do azeite, perdurasse. Uma delicia!

Cristina Vieira

PR1 da AARO

No dia 18 de Abril, a secção de pedestrianismo da associação dos amigos do rio Ovelha, convida todos os amantes da natureza para, juntos fazermos o percurso PR1 MCN, permitindo-nos desfrutar de um magnifico dia e, alegre convívio ao ar livre. O percurso tem início ás 9.30, junto á Igreja Matriz de Soalhães, aí, começamos a subir em direcção à serra, chegando junto á capela de S. Clemente, podemos observar lá ao fundo a Igreja. O caminho começa a estreitar, começando a envolver-nos com as peculiares características da paisagem: a linha de água pela qual se podem observar ruínas de habitações, cobertas de heras e de flores campestres, albergando as espécies de aves, que nos contemplam na primavera com um espectáculo complementado com o barulho da água e com o silêncio característico da serra.
O próximo ponto alto, designado “Monte das Pedras Brancas”, é um pequeno monte que de facto se encontra coberto de pedras envoltas de um esplendor branco, daí a sua designação. Aí, podemos observar, entre outros aspectos característicos da ruralidade desta freguesia, os rebanhos de ovelhas que ali pastam, livremente, e a presença de uma agricultura forte e do trabalho árduo a ela associada, que deixaram entre grandes penedos as marcas do desgaste da pedra pelos carros de bois.Continuando a subir, aproximamo-nos da pequena aldeia de Vinheiros. O fontanário público, no centro da aldeia, permite refrescar a boca com uma água límpida e pura dos verdejantes montes que cobrem Vinheiros.
A comunidade envolta de um verde fresco, realiza os seus “afazeres” diários. Desde “apanhar o penso” para o gado, soltar as ovelhas, semear, colher…Os moinhos ali existentes fazem parte da memória colectiva, mas são ainda utilizados para moer o milho ali cultivado, e é ele que dá um sabor tradicional único à nossa broa.
A linha de 11 moinhos de água que ali existe é uma imagem que as nossas memórias jamais apagarão, pela sua rara e natural beleza.
Neste pequeno povoado podemos identificar também pequenos habitats rupestres.O silêncio e beleza natural da paisagem fazem o resto da delícia da caminhada.
Tipo de percurso: Desportivo, histórico-cultural, ambiental e paisagístico.
Distância: 15 Kms em circuito.
Duração: cerca de 3 a 4 horas
Grau de dificuldade: Médio
Taxa de Inscrição:
3 € sócios (AARO/Restauradores da Granja)
6 € não sócios
Até aos 16 anos é grátis
Contactos para inscrições/informações:
E-mail: percursos@rioovelha.com
pedestrianismo.rioovelha@gmail.com
Tel. 918 608 499/ 96 158 01 49

OS MOINHOS DE VINHEIROS

“Parai de moer, ó mulheres que vos esforçais no moinho!
Continuai dormindo, mesmo que os galos cantem o nascer do dia:
Pois Deméter ordenou às ninfas da água
Que façam elas o vosso trabalho:
Saltando pelo rodízio, fazem girar o eixo
Que obriga a mover as grandes pedras trituradoras.”

Já lá vão mais de dois mil anos que estes versos de Antipater - o poeta que elegeu as sete maravilhas do mundo – nos dão notícia da existência dos moinhos que passaram a utilizar a energia hidráulica, em vez da força humana, dos escravos ou dos animais.

Deméter, deusa grega da agricultura, baptizada pelos romanos como Ceres (de onde a palavra “cereal”), teria, assim, inspirado a invenção da primeira “máquina”.
Isto, aliás, é confirmado poucos anos depois, ainda no século I a.C., por Vitrúvio arquitecto e engenheiro militar de César, na sua obra “De Architectura”, quando, no Livro X, nos diz que “também se instalam, nos rios, umas rodas, com uma espécie de asas que, batidas pelo ímpeto da corrente, são obrigadas a girar, sem esforço humano…ligadas à mó, que com o mesmo rodar expulsam a farinha”.

E parece haver consenso entre os historiadores de que foram os romanos a trazer os primeiros moinhos de água para a Península Ibérica, a substituir as mós manuais que se encontram no espólio de alguns castros. Os árabes impulsionaram, sobretudo, a construção de azenhas (roda vertical) onde havia correntes de água mais abundante.

No entanto, muito tempo havia de passar, e atravessar a Idade Média, durante a qual geralmente só os “senhores” possuíam o direito de interromper os cursos de água para instalar estes engenhos.

Só com descoberta da América foi introduzido em Portugal o milho, e sobretudo, mais tarde, o milho maíz, ou milho grosso, dando origem, a partir do século XVIII, a uma verdadeira proliferação de moinhos em todos os rios e ribeiras onde se pudesse aproveitar a força motriz da água, já que o pão continuou a ser uma das bases essenciais da alimentação.

Ainda hoje se pode dizer que estes engenhos, muitos deles em ruínas ou abandonados com a descoberta da electricidade, constituem uma marca indelével da paisagem rural, tal como as igrejas e capelas: a estas ia-se buscar o pão da alma; àqueles, o pão do corpo.

Momento importante no “ciclo do pão”, que se pode resumir na sequência do lavrar e semear, sachar e mondar, ceifar, secar e desfolhar, malhar e moer, para terminar em farinha amassada e levedada, cozida no forno, e, por vezes, numas saborosas papas com legumes, para não falar nos “milhões” que substituíam o arroz, o trabalho dos moinhos está ligado também a outras vertentes da etnografia popular, através de costumes e lendas, e do nosso cancioneiro:
“Moleiro anda pr’ó céu / Senhor, não tenho vagar / O milho está na dorneira / Inda ‘stá por maquiar”. E também para não esquecer: “Oh! que lindos olhos tem / Ai a filha da moleirinha / Tão mal empregada ela / Ai andar ao pó da farinha”.

Mas estes moinhos não eram de moleiros, nem de troca e maquia. O “Moinho de Balcão”, cedido pela Srª. Dª Diamantina Dias e familiares, faz parte de um belo conjunto de onze, envolvidos por uma vegetação luxuriante, da Ribeira de Vinheiros, em Soalhães, afluente do Lardosa, que aproveitam a mesma água, e dos quais foram recuperados mais três, pela Junta de Freguesia, com o apoio do Programa Leader + e da Câmara Municipal.

Quem nele moeu, pela última vez, nos anos 70, antes da recuperação, foram os consortes das famílias Dias e Monteiro, e o carpinteiro que construiu o actual rodízio, foi o Sr. Manuel Baptista.

De novo a trabalhar como antigamente, constitui agora um dos mais atraentes motivos que tornam aliciante o percurso “Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, fazendo as delícias de visitantes, alunos, turistas e caminheiros que, por aqui muito podem aprender e conviver.


Pereira Cardoso

Iniciativa Moinhos Abertos 2010

Soalhães é uma freguesia rica em tradições e com um vasto património cultural.
A concretização do Percurso Pedestre, Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago, promovido pela Junta de Freguesia com o apoio do Projecto Leader +, foi aposta na valorização do território e na dinamização do espaço rural, promovendo quer o património ambiental quer o património etnográfico.
Foram restaurados cinco dos treze moinhos existentes na linha de água na aldeia de Vinheiros, na encosta da serra da Aboboreira, que complementam uma pequena rota (PR1) de 15km, até ao concelho vizinho de Baião.
Os moinhos fazem parte do dia-a-dia de poucos, mas fazem parte das memórias de muitos. As histórias em volta dos moinhos são fascinantes. Visitá-los acompanhados dos consortes, que nos mostram com muito carinho todos os engenhos e nos explicam como dali sai a fina e macia farinha de milho, é absolutamente pedagógico e culturalmente enriquecedor.
A Junta de Freguesia aderiu pela primeira vez no ano 2009 à iniciativa nacional Moinhos Abertos, sendo uma iniciativa meritória que tem como objectivo chamar a atenção de todos para o inestimável valor patrimonial dos nossos moinhos tradicionais. A divulgação é realizada com a colaboração da Rede Portuguesa de Moinhos
em colaboração com a TIMS, Secção Portuguesa da Sociedade Internacional de Molinologia e pode ser consultada aqui.
Felicitamos a organização e congratulamo-nos por podermos dar o nosso contributo, ficando aqui o convite para visitarem os nossos moinhos no próximo dia 10 de Abril.

Cristina Vieira
Presidente de Junta de Freguesia