“Parai de moer, ó mulheres que vos esforçais no moinho!
Continuai dormindo, mesmo que os galos cantem o nascer do dia:
Pois Deméter ordenou às ninfas da água
Que façam elas o vosso trabalho:
Saltando pelo rodízio, fazem girar o eixo
Que obriga a mover as grandes pedras trituradoras.”
Já lá vão mais de dois mil anos que estes versos de Antipater - o poeta que elegeu as sete maravilhas do mundo – nos dão notícia da existência dos moinhos que passaram a utilizar a energia hidráulica, em vez da força humana, dos escravos ou dos animais.
Deméter, deusa grega da agricultura, baptizada pelos romanos como Ceres (de onde a palavra “cereal”), teria, assim, inspirado a invenção da primeira “máquina”.
Isto, aliás, é confirmado poucos anos depois, ainda no século I a.C., por Vitrúvio arquitecto e engenheiro militar de César, na sua obra “De Architectura”, quando, no Livro X, nos diz que “também se instalam, nos rios, umas rodas, com uma espécie de asas que, batidas pelo ímpeto da corrente, são obrigadas a girar, sem esforço humano…ligadas à mó, que com o mesmo rodar expulsam a farinha”.
E parece haver consenso entre os historiadores de que foram os romanos a trazer os primeiros moinhos de água para a Península Ibérica, a substituir as mós manuais que se encontram no espólio de alguns castros. Os árabes impulsionaram, sobretudo, a construção de azenhas (roda vertical) onde havia correntes de água mais abundante.
No entanto, muito tempo havia de passar, e atravessar a Idade Média, durante a qual geralmente só os “senhores” possuíam o direito de interromper os cursos de água para instalar estes engenhos.
Só com descoberta da América foi introduzido em Portugal o milho, e sobretudo, mais tarde, o milho maíz, ou milho grosso, dando origem, a partir do século XVIII, a uma verdadeira proliferação de moinhos em todos os rios e ribeiras onde se pudesse aproveitar a força motriz da água, já que o pão continuou a ser uma das bases essenciais da alimentação.
Ainda hoje se pode dizer que estes engenhos, muitos deles em ruínas ou abandonados com a descoberta da electricidade, constituem uma marca indelével da paisagem rural, tal como as igrejas e capelas: a estas ia-se buscar o pão da alma; àqueles, o pão do corpo.
Momento importante no “ciclo do pão”, que se pode resumir na sequência do lavrar e semear, sachar e mondar, ceifar, secar e desfolhar, malhar e moer, para terminar em farinha amassada e levedada, cozida no forno, e, por vezes, numas saborosas papas com legumes, para não falar nos “milhões” que substituíam o arroz, o trabalho dos moinhos está ligado também a outras vertentes da etnografia popular, através de costumes e lendas, e do nosso cancioneiro:
“Moleiro anda pr’ó céu / Senhor, não tenho vagar / O milho está na dorneira / Inda ‘stá por maquiar”. E também para não esquecer: “Oh! que lindos olhos tem / Ai a filha da moleirinha / Tão mal empregada ela / Ai andar ao pó da farinha”.
Mas estes moinhos não eram de moleiros, nem de troca e maquia. O “Moinho de Balcão”, cedido pela Srª. Dª Diamantina Dias e familiares, faz parte de um belo conjunto de onze, envolvidos por uma vegetação luxuriante, da Ribeira de Vinheiros, em Soalhães, afluente do Lardosa, que aproveitam a mesma água, e dos quais foram recuperados mais três, pela Junta de Freguesia, com o apoio do Programa Leader + e da Câmara Municipal.
Quem nele moeu, pela última vez, nos anos 70, antes da recuperação, foram os consortes das famílias Dias e Monteiro, e o carpinteiro que construiu o actual rodízio, foi o Sr. Manuel Baptista.
De novo a trabalhar como antigamente, constitui agora um dos mais atraentes motivos que tornam aliciante o percurso “Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, fazendo as delícias de visitantes, alunos, turistas e caminheiros que, por aqui muito podem aprender e conviver.
Continuai dormindo, mesmo que os galos cantem o nascer do dia:
Pois Deméter ordenou às ninfas da água
Que façam elas o vosso trabalho:
Saltando pelo rodízio, fazem girar o eixo
Que obriga a mover as grandes pedras trituradoras.”
Já lá vão mais de dois mil anos que estes versos de Antipater - o poeta que elegeu as sete maravilhas do mundo – nos dão notícia da existência dos moinhos que passaram a utilizar a energia hidráulica, em vez da força humana, dos escravos ou dos animais.
Deméter, deusa grega da agricultura, baptizada pelos romanos como Ceres (de onde a palavra “cereal”), teria, assim, inspirado a invenção da primeira “máquina”.
Isto, aliás, é confirmado poucos anos depois, ainda no século I a.C., por Vitrúvio arquitecto e engenheiro militar de César, na sua obra “De Architectura”, quando, no Livro X, nos diz que “também se instalam, nos rios, umas rodas, com uma espécie de asas que, batidas pelo ímpeto da corrente, são obrigadas a girar, sem esforço humano…ligadas à mó, que com o mesmo rodar expulsam a farinha”.
E parece haver consenso entre os historiadores de que foram os romanos a trazer os primeiros moinhos de água para a Península Ibérica, a substituir as mós manuais que se encontram no espólio de alguns castros. Os árabes impulsionaram, sobretudo, a construção de azenhas (roda vertical) onde havia correntes de água mais abundante.
No entanto, muito tempo havia de passar, e atravessar a Idade Média, durante a qual geralmente só os “senhores” possuíam o direito de interromper os cursos de água para instalar estes engenhos.
Só com descoberta da América foi introduzido em Portugal o milho, e sobretudo, mais tarde, o milho maíz, ou milho grosso, dando origem, a partir do século XVIII, a uma verdadeira proliferação de moinhos em todos os rios e ribeiras onde se pudesse aproveitar a força motriz da água, já que o pão continuou a ser uma das bases essenciais da alimentação.
Ainda hoje se pode dizer que estes engenhos, muitos deles em ruínas ou abandonados com a descoberta da electricidade, constituem uma marca indelével da paisagem rural, tal como as igrejas e capelas: a estas ia-se buscar o pão da alma; àqueles, o pão do corpo.
Momento importante no “ciclo do pão”, que se pode resumir na sequência do lavrar e semear, sachar e mondar, ceifar, secar e desfolhar, malhar e moer, para terminar em farinha amassada e levedada, cozida no forno, e, por vezes, numas saborosas papas com legumes, para não falar nos “milhões” que substituíam o arroz, o trabalho dos moinhos está ligado também a outras vertentes da etnografia popular, através de costumes e lendas, e do nosso cancioneiro:
“Moleiro anda pr’ó céu / Senhor, não tenho vagar / O milho está na dorneira / Inda ‘stá por maquiar”. E também para não esquecer: “Oh! que lindos olhos tem / Ai a filha da moleirinha / Tão mal empregada ela / Ai andar ao pó da farinha”.
Mas estes moinhos não eram de moleiros, nem de troca e maquia. O “Moinho de Balcão”, cedido pela Srª. Dª Diamantina Dias e familiares, faz parte de um belo conjunto de onze, envolvidos por uma vegetação luxuriante, da Ribeira de Vinheiros, em Soalhães, afluente do Lardosa, que aproveitam a mesma água, e dos quais foram recuperados mais três, pela Junta de Freguesia, com o apoio do Programa Leader + e da Câmara Municipal.
Quem nele moeu, pela última vez, nos anos 70, antes da recuperação, foram os consortes das famílias Dias e Monteiro, e o carpinteiro que construiu o actual rodízio, foi o Sr. Manuel Baptista.
De novo a trabalhar como antigamente, constitui agora um dos mais atraentes motivos que tornam aliciante o percurso “Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, fazendo as delícias de visitantes, alunos, turistas e caminheiros que, por aqui muito podem aprender e conviver.
Pereira Cardoso
1 comentário:
Meu querido amigo, este PR1 se tiver alma, ela é gémea da tua!
Desde o painel de mosaico no inicio do PR1, ao próprio nome "Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago" ..tu deste vida a este PR1..e andas com ele de mãos dadas, como quem acompanha um filho até á adolescência...
sempre atento! ...
Um abraço fraterno.
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