Soalhães inaugurou o 1º percurso pedestre do concelho.
De repente aparece, no concelho de Marco de Canaveses, uma serra chamada Aboboreira que parece ter vestido a rigor as suas melhores flores, colocado as melhores sombras e libertado as águas mais fortes e limpas, para encantar os caminheiros.
O dia prometia pelo sol e pelo número de entusiastas, que encheu a igreja matriz de Soalhães, onde houve uma apresentação sobre a sua história e as estórias que a talha, deste monumento nacional, podia contar.Após inauguração da placa informativa dos trilhos da rota das Pedras Moinhos e Aromas de Santiago (PMAS) é dada a partida para os 15km que esperavam os cerca de 200 caminheiros, contados pelos guias num portão que dividia a calçada da terra.
Surge a Poça da Sapeira e a primeira picada que põe à prova as pernas de miúdos e graúdos, e a tração das botas, ténis e chinelos (?) - que alguns teimaram em levar.Ali perto, na capela de S. Clemente circulavam, em redor, uma senhora com crianças em número ímpar, como manda a tradição, orando em voz alta às graças do santo.
Esta animação fazia parte de uma série de outras que recriavam velhos costumes e levavam os caminheiros a entender as tradições, numa espécie de viagem no tempo.
Eis que surge o primeiro moinho, inserido numa pequena povoação, onde nos esperava uma série de outras animações - as lavadeiras, as discussões dos casais por causa do "tintol", os artesãos, os moleiros transportando farinha nos burros e as crianças que jogavam ao pião, à macaca, guiavam rodas de metal pelo chão fora e construiam bicicletas de pau - e o primeiro reforço com broa recheada de carne, azeitonas, cebolas, doces e bom vinho.
Nova partida e os participantes começavam a rasgar elogios à organização, deliciados que estavam com os primeiros 4km do PEC1.Esperavam-nos mais uma série de moinhos alinhados pelos cursos de água, ora deslizando à sua vontade, ora teimosamente encanada em troncos escavados directamente para as mós.Em todo lado, e perto dali, viamos cenas típicas de anos que muitos quase esqueceram e muito outros nunca tinham visto. Trajadas a rigor em simulação perfeita das lides do campo e das conversas de outrora, estas mulheres e homens faziam-nos parar, para ver e escutar que dizeres que negócios tratavam.
A próxima etapa era a partir de agora a tasca do Sr. Artur, já em terras de Baião, mas antes de lá chegar surgem os planaltos, pintados de violeta com as urzes, malvas e lavanda convidando a um passo mais lento e contemplativo.
Com o sol no ponto máximo, surge junto a uma fonte a discussão entre um pai e o pretendente da sua filha, que lavava roupa no tanque da pequena vila. Discurso de improviso, palavras que já não lembrava, pronúncia acentuada e voz arrastada, pedia oiro, terras, vacas, ovelhas e alqueires de isto e daquilo.
Eis a tasca e o segundo repasto entre, bolas, iscas, presunto, vinhos e doces da Teixeira, aliviam-se as pernas e restabelecem-se as energias.A partir daqui é sempre a descer. Surge ainda um belo carvalhal antes de passar por duas belas quintas e apreciar os vales cultivados ora verdes de milho ora amarelos da palha.
A Aboboreira mostrou a sua força nas pedras e penedos, sempre bem maquilhada, envolvida, por graça, pelas borboletas de várias cores e de perfeitos amores.À vista, de novo, a capela de S. Clemente diz-nos que estamos perto do fim e anuncia a clemência das pernas.
É hora do lanche. Chegamos ao Centro Social de Soalhães e abrigados na sombra do edifício, deliciamo-nos com uma mesa recheada de boa comida.Um dia para não mais esquecer e a promessa convicta de voltar e trazer novos amigos.
Só me resta agradecer e felicitar todos os que trabalharam para preparar e nos apresentar este belo evento.À Sr.ª Pres. JFSoalhães, Cristina Vieira e à Ana Pinto (Paulinha) pelo magnífico trabalho.Uma aposta ganha e com futuro.
Veja as fotos do PEC1 Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago.
Texto de Francisco Freitas Cardoso
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